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Mercado avalia Gabriel Galípolo no Banco Central com paciência

Com aceitação do Senado, Gabriel Galípolo terá na presidência do Banco Central o desafio de garantir a independência do órgão

09/10/2024 às 07h38 Atualizada em 10/10/2024 às 13h42
Por: Políticas & Negócios Fonte: Claudete Leitão
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 Mercado ainda avalia aprovação de Gabriel Galípolo ao Banco Central, mas mostra paciência 09/10/2024 07:23 Justiça Pacheco autoriza abertura de CPI para investigar crescimento e influência do ‘jogo do tigrinho’ 09/10/2024 07:10 Policial Polícia prend
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Com a aprovação do Senado para presidir o Banco Central (BC), o economista Gabriel Galípolo poderá enfrentar entraves durante a nova gestão, entre eles, pressões políticas, questões fiscais e a discussão da PEC 65/2023, que propõe transformar a instituição em empresa pública.

Especialistas ouvidos pelo R7, parceiro nacional do Portal Correio, apontam que o impacto da indicação, neste momento, ainda é pequeno. Em um primeiro período, o novo chefe do banco terá que convencer economistas do setor financeiro sobre a manutenção da autonomia e a credibilidade da autarquia.

Em meio às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à independência do BC, o mercado havia se mostrado apreensivo quanto à indicação de Galípolo, feita em agosto. Entretanto, a elevação da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, se transformou em um fator contribuinte para redução da tensão no setor financeiro.

À época, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC afirmou que a decisão seria “compatível” com a estratégia de convergência da inflação, sem causar prejuízos na estabilidade dos preços, atividade econômica e fomento do emprego.

“Esse foi o primeiro aumento desde agosto de 2022, e a decisão unânime, mesmo sob as críticas de Lula em relação ao nível atual da Selic, seria como um sinal de que a independência da instituição, mesmo com Galípolo em sua diretoria, estaria mantida”, disse a economista Tayllis Zatti.

O doutor em economia Riezo Almeida explica que mesmo com a independência formal do BC assegurada por lei, a maneira como Galípolo conduz as interações com o governo vai demonstrar a autonomia na prática. “Há uma expectativa de que, apesar da pressão por uma redução mais rápida das taxas de juros, ele adote uma postura equilibrada, respondendo aos indicadores econômicos e às metas inflacionárias, ou seja, com um viés mais técnico do que político”, completou.

Para especialistas, economistas do setor financeiro estarão atentos às primeiras decisões do novo presidente. Assim como ao grau de transparência e técnica com que ele conduzirá a política monetária.

“O mercado enxerga com otimismo a capacidade de diálogo de Galípolo. Ele construiu uma sólida reputação em seus cargos anteriores, mostrando habilidade em transitar entre diferentes setores e equilibrar interesses. Essa competência será essencial para garantir a estabilidade econômica nos próximos anos”, argumenta a especialista em planejamento financeiro Gabriela Paixão.

De acordo com o economista Hugo Garbe, manter a confiança dos investidores e garantir a estabilidade monetária em um ambiente econômico que ainda busca conter a inflação também estão entre os desafios para Galípolo.

“O mercado financeiro pode reagir inicialmente com cautela, especialmente devido ao histórico de Galípolo e seu alinhamento com o governo. O mercado está atento à possibilidade de interferência política na condução das decisões do Banco Central”, disse.

Galípolo contraria expectativa de polarização

O economista Luigi Belle destaca que a posição de Galípolo sobre a condução da política monetária ainda é incerta. Entretanto, o indicado por Lula surpreendeu ao demonstrar alinhamento com o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contrariando as expectativas de polarização interna.

Galípolo defendeu autonomia do BC, mas pontuou que isso não exclui o diálogo com o governo, que é responsável por definir as metas de inflação. Durante a sabatina na CAE, ele afirmou que o Banco Central não deve “virar as costas” para o “poder democraticamente eleito”.

“Ele mostrou um elemento muito importante de alinhamento e respeito com o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Então, para aqueles que achavam que haveria uma polarização em relação à política monetária, ficaram decepcionados, porque ele mostrou que está alinhado com a atual gestão do BC, além de estar alinhado com o governo federal”, destaca.

PEC 65/2023

Em relação à PEC 65/2023, que fala da transformação do BC em uma empresa pública, especialistas apontam que a iniciativa pode respingar na nova gestão. Apesar das críticas, a proposta de emenda constitucional pode garantir melhores condições de trabalho aos servidores do Banco Central, incluindo remuneração e estruturação de carreira.

Entretanto, a PEC é rejeitada pelo Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central. Segundo a instituição, o possível arranjo “mantém a fragilização do vínculo do BC com o Estado e a sociedade brasileira e cria uma figura jurídica não existente no direito brasileiro”.

Para o sindicato, a configuração do texto abre espaço para a privatização de serviços e atividades que são de Estado, o que coloca em risco a “soberania nacional” em áreas como gestão de reservas internacionais, regulação prudencial e execução da política monetária e cambial.

Primeira sabatina do BC com mandato fixo

Gabriel Galípolo assumirá a presidência do Banco Central a partir de janeiro de 2025, substituindo Roberto Campos Neto. Esta é a primeira indicação para o cargo após a promulgação da Lei Complementar 179, de 2021, que aumentou a autonomia da instituição e fixou mandatos para os diretores.

Uma vez na presidência, o chefe do BC só pode ser exonerado em quatro situações: no pedido próprio; por incapacidade decorrente de enfermidade; após declarações judiciais definitivas; ou se o desempenho for considerado insuficiente para atingir os objetivos da instituição. Neste último caso, a exoneração precisa ser aprovada pela maioria absoluta do Senado.