O Museu Histórico de Monteiro está de portas abertas até o dia 30 de junho, aos visitantes que queiram conhecer um pouco mais da vida, história e arte de uma das suas maiores expressões artísticas do mundo da música nativa brasileira: A Pifeira Zabé da Loca, através da exposição “Da Idade da Pedra”.
No salão principal do museu, o fotógrafo Ricardo Peixoto fez um compilado de 21 anos de trabalho, desde os primeiros contatos com a Pifeira em 1996 até o ano de 2017, ano de falecimento da artista. A exposição conta com fotografias, objetos de uso pessoal, quadros, montagens, instrumentos musicais, onde os visitantes poderão conhecer um pouco do universo em que habitava Zabé da Loca.
Para Ricardo Peixoto “Zabé teve um ciclo de vida que chegou aos 93 anos de uma mulher que teve uma história linda e maravilhosa que tivemos a oportunidade e o prazer de conhecer e divulgar. Ela deixou um legado fantástico. Nossos mestres vão sobrevivendo, mesmo com a infinidade de negativas que recebem da vida. Gente como Zabé nos mostra a grandiosidade das pessoas simples e a força da cultura na zona rural. Ela representou – e sempre vai representar – um fator importante para a Paraíba.” Pontuou.
“Temos uma identidade cultural fortíssima, mas nem sempre reconhecida, até mesmo no meio cultural. A importância da memória de Zabé não se dá apenas para pesquisadores. Ela é importante para o reconhecimento dessas transversais que transgridem a linearidade do tempo. Seu som primitivo inspirou o futuro”. Comentou.
Ricardo Peixoto ainda lembrou os momentos em que pôde compartilhar da longa convivência que manteve, durante uma década, a partir de 1996, com Zabé da Loca. Tudo começou quando ele soube da existência da pifeira por intermédio do músico Rivers Douglas, integrante e idealizador do grupo Pife Perfumado, que atua em Monteiro, e ficou curioso em desenvolver, por intermédio da Agência Ensaio – que fundou na cidade de João Pessoa com Mano de Carvalho e Marcos Veloso – um trabalho de pesquisa com a artista. Desse contato resultou, por exemplo, o projeto intitulado Da Idade da Pedra, que retrata a trajetória da instrumentista.
A princípio, o projeto Da Idade da Pedra – coordenado por Ricardo Peixoto, junto com Rivers Douglas – seria um ensaio fotográfico, mas terminou ganhando contorno multimídia, pois profissionais de outras áreas, ao tomarem conhecimento da arte da instrumentista, se juntaram à iniciativa. Além das fotos feitas por Ricardo Peixoto, o trabalho inclui texto do poeta Lúcio Lins, obras do artista plástico Nai Gomes, música e vídeos, além de um livro.
Dentro do projeto Da Idade da Pedra, a Agência Ensaio se mobilizou para, em 1999, realizar a gravação de um disco na própria pedra onde a tocadora morou durante mais de duas décadas, depois que a casa de taipa construída pelo marido desabou parcialmente e precisou morar, a princípio de forma temporária, na área, localizada no Sítio Tungão, que se transformou em casa após a morte do esposo. Daí a incorporação da palavra “loca”, uma espécie de caverna, ao nome artístico, mas depois foi morar na casa de uma das filhas. “Foi uma experiência muito bonita, de parceria”, comentou o fotógrafo, ao falar sobre os anos que compartilhou da convivência com a artista.
Pernambucana nascida na cidade de Buíque, Zabé da Loca se mudou ainda na adolescência para o município de Monteiro, no Cariri da Paraíba. Ela ainda morava na gruta quando seu talento foi descoberto, aos 79 anos de idade. Em, 2009, aos 85 anos, sua arte foi reconhecida ao receber o prêmio Revelação da Música Popular Brasileira. Zabé da Loca faleceu na sua própria residência de causas naturais no dia 5 de agosto de 2017, aos 93 anos, no Sítio Santa Catarina em Monteiro.
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