Educação SESI-PB
Conheça o cascanudo: alunos do SESI-PB criam canudo biodegradável de casca de banana
Projeto da Escola Dionísio Marques de Almeida, em Patos, encontra solução para o alto descarte de plástico nos mares e o desperdício de água na agricultura
16/08/2023 11h11
Por: Políticas & Negócios Fonte: Claudete Leitão/Ascom

Casca de banana, amido, vinagre, glicerina e água. Esses são os ingredientes necessários para se criar um canudo biodegradável a partir dos restos da fruta mais consumida pelos brasileiros: a banana. A ideia de reaproveitar resíduos que iriam para o lixo e criar um substituto sustentável do item que sempre acompanha as bebidas surgiu dos estudantes do interior da Paraíba Gabrielli Maia, 14 anos, Rebecca Oliveira, 14, e Miguel Leite Almeida, 15.   

Os alunos do SESI Dionísio Marques de Almeida, em Patos (PB), desenvolveram o projeto Casca canudo: protótipo de canudo biodegradável à base da casca de banana no Laboratório de Iniciação Científica (LIC) da escola. A problemática veio pela orientadora Janaína Larice, que fez um curso de agricultura orgânica. O conteúdo falava sobre o desperdício, com foco na produção da banana. 

Para cada 1kg da fruta, são utilizados 500 litros de água, do cultivo da semente até a chegada no supermercado. Como a casca, quase sempre fadada ao lixo, tem de 30% a 40% do peso, podemos dizer que são praticamente 200 litros de água “desperdiçados”.  

“Como boa pesquisadora, fiquei preocupada. Aqui no interior da Paraíba passamos por racionamento de água e fiquei muito intrigada com isso. Tínhamos que fazer alguma coisa para aproveitar as cascas”, conta a orientadora do projeto.  

Nada melhor do que três mentes jovens e criativas para ajudar a encontrar uma solução. Janaína levou a questão para o LIC. Gabrielli, Miguel e Rebecca tiveram a ideia de desenvolver um bioplástico e fazer um canudo e, assim, dar alguma utilidade às cascas e também à água usada na produção. 

Uma informação adicional reforça a proposta dos estudantes: de acordo com levantamento feito pelo Fundo Mundial da Natureza (WWF), aproximadamente 10 milhões de toneladas de resíduos plásticos são despejados no mar anualmente. E os canudos são os que mais poluem as águas. No Brasil, segundo a Pesquisa Industrial Anual feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram produzidas 2073 toneladas de canudos em 2021. 

A receita do Cascanudo 

Os insumos vêm do consumo de bananas do próprio time de pesquisa e também de hortifrutis e de mutirões na escola. O canudo desenvolvido por eles passou por 13 testes em bebidas quentes e frias para conferir aspectos de resistência, consistência e de degradação. Os estudantes perceberam que, para um melhor resultado do plástico, a casca precisaria estar fresca.  

"Já a testamos de outras formas, mas sempre trazia uma textura arenosa para o bioplástico, não dava certo ou até mesmo surgiam fungos”, explica Gabrielli. Ela detalha a receita: 

São utilizados 50g de casca, 25g de amido de milho, 20g de vinagre, 20g de glicerina e 150ml de água. A casca é batida no liquidificador e a massa é levada ao fogo adicionando os demais ingredientes. Ela é cozida até adquirir uma consistência homogênea e é colocada para secar numa placa de vidro. 

Outra preocupação era garantir que o produto não tivesse gosto, cheiro ou soltasse pedaços durante o uso. Miguel explica que em bebidas ácidas, por exemplo, o canudo só começou a se degradar após 24h. Porém, as pessoas “nunca passam muito tempo usando o mesmo canudo”. 

Sem contato com nada, o protótipo só começou o processo de degradação passados 21 dias. “Ele ainda pode ficar guardado e de certa forma vendido e distribuído”, acrescenta o estudante do 1º ano do ensino médio. 

Comercialização dos canudos 

A meta dos estudantes e da professora é que o canudo seja comercializado, mas é um passo que pode demorar. “Tem toda a parte burocrática, de patente, documentação junto à escola, mas essa é a ideia. A gente quer resolver um problema e contribuir para a economia circular da água”, almeja a orientadora. 

Eles estão em busca de uma parceria com um professor de matemática da escola para precificar o canudo e fazer dele um item acessível. Mas enquanto a etapa de comercialização não chega, os alunos partem agora para melhorar a apresentação do produto e torná-lo atrativo. Para Rebecca, essa é a maior dificuldade.  

“O canudo ficava com uma aparência estranha, uma cor diferente e com uns pedacinhos da casca da banana aparente. Esse foi e ainda é nosso desafio”, detalha. “A gente pretende melhorar isso.” 

Os estudantes querem um design com uma espessura uniforme e talvez até dar cor ao canudo. Para colar o plástico e deixá-lo em formato cilíndrico, eles pensaram em uma cola também biodegradável. Gabrielli, Miguel e Rebecca criaram duas opções: uma a partir da própria massa e outra com polvilho e água, que deu a textura esperada, mas deixou um aspecto pegajoso. 

Quem planta pesquisa colhe ciência  

Em um ano de projeto, os estudantes aprenderam mais sobre assuntos como economia circular da água, análises e escrita científica que muitas vezes não seriam vistos em sala de aula. Retornar o olhar para questões do meio ambiente também foi um ganho. “Com o LIC, eu fiz questão de poder absorver bastante da própria ecologia, do cuidado, do novo olhar, um simples uso de canudo e até coisas mais grandiosas”, avalia Miguel. 

Já Gabrielli e Rebecca, estudantes do 9º ano, compreenderam o impacto do descarte incorreto, ganharam mais experiência e um pouco mais de peso na bagagem que estão construindo para a vida, principalmente com a participação em feiras do SESI e exposições nacionais.  

“Eu aprendi a dimensão que é o descarte incorreto do plástico e consegui mais experiência sobre esses assuntos. Com certeza, vou levar para a minha vida e para a faculdade", compartilha Gabrielli. 

E, claro, os aprendizados se estendem a quem ensina e orienta. Para Janaína, que também já foi estudante e gostava de participar de projetos de ciência durante o ensino fundamental, o sentimento de ser cientista só surgiu agora à frente do LIC.

“Mesmo depois de cinco anos de faculdade, dois anos de especialização e dois anos de mestrado em ecologia, só fui viver a profissão de pesquisadora quando me tornei orientadora”, comenta. “Eu planto sementes e vejo que é uma construção.” 


Uma construção maior ainda vai ser devolver à sociedade uma alternativa. Ela chega nos restaurantes e sempre nega os canudos, com a esperança de que daqui um tempo possa aceitar receber do garçom um Casca Canudo desenvolvido pelo SESI Dionísio Marques de Almeida. Janaína não fala brincando. Ela espera que a ciência ultrapasse os muros da escola.